terça-feira, 14 de junho de 2011

As Festas de Verão e a Publicidade Agressiva da Industria do Alcool



É recorrente o fenómeno da publicidade e do marketing agressivo em relação ao apelo do consumo das bebidas alcoólicas, da indústria do alcool, entre o mês de Abril e Setembro assumir dimensões desproporcionadas em “palcos sociais” onde destaco a Queima das Fitas, os Santos Populares e os festivais de música. Estes “palcos” movimentam, por ano, dezenas de milhares de pessoas, na sua grande maioria, adolescentes e jovens adultos e são uma fonte de receita (lucro) apetecível. 

São meses de festa e divertimento onde o álcool é encarado como um excelente “lubrificante” na gestão e expressão das ideias e das emoções. Todavia, uma parte significativa e “escondida” está relacionada com o abuso do álcool e de outras substancias psicoactivas licitas e/ou ilícitas, o alcoolismo, com a violência (Ex. bullying), os acidentes, binge drinking, a gravidez indesejada, condução sob o efeito do álcool e/ou outras drogas, intoxicação alcoólica.

Uma notícia no JN do dia 10 de Junho de 2011 despertou a minha atenção. Em letras garrafais referia o seguinte “Arraiais contaminados pela febre das cervejas. Lisboa, marcas estão em todo em toda a parte, nas paredes, eléctricos e quiosques.

Desde 2007 altura em que iniciei o blogue, em particular, um dos temas em destaque, na Prevenção das Dependências, são os adolescentes e jovens adultos, e a forma como a Industria poderosa e milionária do Álcool e os seus parceiros influenciam o fenómeno do abuso do álcool e do alcoolismo, através da excessiva publicidade e do marketing agressivo, na nossa sociedade, já de si extremamente afectada pelo alcoolismo, desde há dezenas de anos (cultura que bebe), e que tem permanecido activo e intocável ao longo das gerações. Isto é, o álcool (substancia psicoactiva, depressora do sistema nervoso central – droga licita) e o alcoolismo (doença referida no DSM - Manual de Diagnostico e Estatísticas das Perturbações Mentais e no CID - Classificação Internacional de Doenças) são fenómenos ignorados e negligenciados ainda em Portugal, a nível da saúde, da prevenção, da vontade dos políticos, da legislação e das consequências sociais (ex. violência domestica, acidentes sob o efeito do álcool, o consumo e abuso de bebidas alcoólicos por menores de idade, a prevenção, o tratamento).

Algumas afirmações reveladoras e preocupantes sobre a negligência e a negação do fenómeno na noticia do JN:
“Em vez dos enfeites de papel, balões, santos antoninos e manjericos nos bairros históricos de Lisboa, em contagem decrescente para as festas, há anúncios a cervejas. É uma espécie de “vírus” que tomou a cidade.”  Presidente da Junta de Freguesia da Sé.

“Eu não quero saber qual é a cerveja melhor, qual é a numero um, acho que é obsessiva a forma como ocupam o bairro. A Câmara fiscaliza tão bem umas coisas e alheia-se de outras” Presidente da Junta de Freguesia da Sé.

“A publicidade está em toda a parte: nos eléctricos que passam, fachadas dos prédios, taipais das obras, caixas da EDP, montras, bancas, esplanadas e varandas de apartamentos a troco de meia dúzia de cervejas grátis. E todo este apelo ao consumo convive, lado a lado, com outros cartazes que recomendam moderação com o álcool. É assim na Sé, Alfama, Castelo ou no Bairro Alto.”

“A guerra entre as duas principais marcas de cerveja (…) começou de forma envergonhada, mas atingiu este ano proporções alarmantes.”

Ambas as marcas questionadas pelo referido jornal afirmaram:
A primeira “opção livre e assumida e que preocupada com o consumo “responsável vai disponibilizar um autocarro gratuito na noite de domingo para segunda-feira.”

A segunda “a visibilidade e os quiosques da marca cumprem um regulamento e seguem todos os procedimentos para obtenção das autorizações legais”, junto da Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC), organizadores dos arraiais e Câmara de Lisboa”

“A EGEAC não dá resposta. O vereador José Sá Fernandes diz que não há meios para fiscalizar” Presidente da Junta de Freguesia da Sé, acrescenta “é preciso coragem política para regulamentar”

Considerei relevante enaltecer a atitude deste politico, independentemente das cores e ideias politicas, enviei-lhe um email a felicita-lo e aproveito para publicar assim como a respectiva resposta.

Exmo Sr Presidente da Junta de Freguesia da Sé, Sr. Filipe António Osório de
Almeida Pontes

Após ter conhecimento da noticia do Jornal de Noticias da qual o sr fez
denuncia e referencia ao abuso da publicidade e das técnicas agressivas de
marketing, pela Industria poderosa e milionária do álcool e os seus
parceiros, antes, durante e depois dos Santos Populares, visto os cartazes
permanecerem nas paredes "eternamente", venho felicita-lo enquanto
Presidente de Junta e como politico pela denuncia deste tipo de actividade
"ilegal" mas permitida e negligênciada pelas autoridades competentes.

Trabalho na área das dependências desde 1993. Como profissional, pai e
membro da sociedade considero que este tipo de fenómenos incentivam o abuso
de álcool por parte dos jovens (binge drinking - abuso cujo intuito é a
intoxicação -  embriaguez), contribuem para o agravamento da nossa "cultura
que bebe" há dezenas de anos e que permanece activa através das gerações,
com  a agravante de não existirem pessoas e/ou instituições suficientemente
activas capazes de interferirem neste tipo de legislações permissivas. O
lucro não pode ficar acima dos direitos das crianças e jovens adultos. As
lacunas legais existentes não justificam a "contaminação pelo vírus."

Convido-o a visitar os meus blogues sobre a Recuperação das Dependências e
da Prevenção das Dependências.

Só me resta, e mais uma vez, felicita-lo pelo seu "desabafo" impotente e
isolado, mas realista e preocupante, perante o JN.

Atenciosamente

João Alexandre Rodrigues
Conselheiro em Comportamentos Adictivos

Resposta ao email pelo Presidente da Junta:

Agradeço as suas palavras e irei certamente espreitar o seu blog. O trabalho
do autarca deve reflectir os valores do próprio por isso faço-o com a
convicção de quem partilha estas e outras certamente preocupações sobre as
novas gerações e futuro garante da sociedade.

Grato
Filipe Pontes

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